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De hipopótamos a protozoários

De hipopótamos a protozoários
Institucional

DE HIPOPÓTAMOS A PROTOZOÁRIOS: A NECESSIDADE DE CONSTRUIR UMA “MICROCULTURA” PARA TER SUCESSO EM PROCESSOS NEGOCIAIS

Há uma anedota popular sobre um excelente orador, que havia se especializado no estudo de protozoários, mas que se gabava de poder falar em público sobre qualquer assunto. Era, por isso, convidado para participar de diversos temas.

Reza a lenda que um dia, ao ser convidado para participar de um evento sobre animais de grande porte, aceitou prontamente, em nome da sua história. Quando foi chamado ao palco, percebeu que a discussão seria sobre elefantes e hipopótamos. Como não tinha qualquer conhecimento sobre o tema, nosso personagem iniciou afirmando que falaria de animais realmente grandes, que nem se comparavam, por exemplo, a um protozoário. A partir daí, passou os outros noventa por cento do tempo a explicar para o público as características dos protozoários.

Embora esse seja um relato fictício e pitoresco, podemos encontrar analogias com situações práticas, no campo das exposições ou negociações, ou mesmo em uma entrevista de emprego, em que o postulante no máximo “sabe que o galo cantou, mas não sabe onde”. Os argumentos apresentados tornam-se naturalmente frágeis e serão mais desastrosos do que se o protagonista simplesmente admitisse que não entende o suficiente sobre o assunto.

Em minhas andanças e aventuras acadêmicas, tenho sido testemunha de várias situações em que debatedores, apresentadores, entrevistados ou negociadores baseiam seus argumentos em conceitos controversos, e em algumas situações até inverídicos. Infelizmente a profusão de informações potencializada pelas redes sociais aumentou o número de replicações de definições colhidas sem aprofundamento, muitas delas conhecidas como pós-verdades, ou “fake news”.

O objetivo de mais um pequeno ensaio é alertar para a necessidade para nossos conterrâneos migrantes, de que antes de participarem de entrevistas de emprego ou rodadas de negociações, que busquem construir um requisito mínimo de conhecimentos sobre os assuntos que poderão ser tratados, para que não sejam surpreendidos com questões de que não têm domínio. No entanto, se isso acontecer, será sempre melhor confessar o desconhecimento sobre o assunto, do que tentar tergiversar sobre o tema, ou seja, tentar levar a discussão para uma “zona de conforto”, o que poderá aumentar ainda mais a vulnerabilidade.

Uma questão que se coloca é sobre como adivinhar que temas poderão ser abordados no evento? A primeira sugestão é de buscar o máximo de informações possíveis, incluindo redes sociais e plataformas de currículos, e nunca subestimar a pessoa – ou as pessoas – que estarão envolvidas no processo. Considere sempre que, se ela foi indicada para representar uma instituição em um debate ou entrevista, é porque tem todo o suporte e competência para isso. O outro requisito é obviamente construir a microcultura sobre o tema. Busque apoio de amigos ou de pessoas que possam auxiliar na explicação de conceitos de que não tem conhecimento. Em muitas situações, a simulação de debates, apresentações e entrevistas dá muito bons resultados.

Em defesas de trabalho acadêmicos, em especial, lembre-se sempre de que você é conhecedor do tema, mas apenas sob sua abordagem e ponto de vista, é que os interlocutores provavelmente terão abordagens ou compreensões diferentes sobre o assunto. E considere sempre que a expressão “não tenho conhecimento suficiente, mas vou aproveitar para me aprofundar mais no tema” tem mais chances de sucesso do que abordar a “Teoria do Protozoário”, a não ser claro, que seja esse o tema e você o especialista.

Laércio de Matos Ferreira

Laércio de Matos Ferreira, sócio-fundador da Associação Portuando, é investigador, em nível de pós-doutoramento, na área de Inovação Territorial junto à Universidade de Aveiro. Possui doutorado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestrado em Gestão pela Universidade Estadual do Ceará. É mentor associado à BrasileiroSou, além da Rede MentAll, da Universidade de Aveiro.

Veja quem é Laércio de Matos Ferreira
Segue a Associação Portuando

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#3 Afinal, nós falamos brasileiro ou português do Brasil?
#4 A importância da informação no processo negocial
#5 As relações de poder na negociação
#6 Um dia sem brasileiros em Portugal
#7 De hipopótamos a protozoários

Comentários (1)

  1. João Alencar

    Infelizmente, vemos estas situações acontecerem com bastante frequência: ouvir o galo cantar o não saber aonde. A facilidade de acesso à informações do mundo todo, 24/24 h , sobre todos os temas, dificulta o aprofundamento e foco em um tema específico. Temos de nos policiar e focar. Parabéns pelo artigo.

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