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Afinal, nós falamos brasileiro ou português do Brasil?

Afinal, nós falamos brasileiro ou português do Brasil?
Institucional

Afinal, nós falamos brasileiro ou português do Brasil?- O trabalho de apoio a empresários brasileiros que pretendem se inserir na dinâmica de negócios em Portugal tem situações interessantes, como a pergunta que motivou este ensaio, feita durante uma entrevista em que eu apresentava um curso sobre Negociação Cultural. Um outro momento interessante aconteceu quando elogiei o sotaque nortista de um português, e ele me disse ter se espantado com um brasileiro falando sobre sotaque, já que nós, brasileiros, é que teríamos um sotaque acentuado ao falar português.

A verdade é que os brasileiros não falam nem um idioma diferente do português, nem um português com sotaque acentuado, mas o resultado histórico das interações do idioma do país colonizador com os nossos indígenas e africanos, além das diversas conexões internacionais que o povo brasileiro tem experimentado desde o descobrimento, como o galicismo e o anglicismo.

O galicismo consiste na incorporação de termos franceses ou afrancesados ao nosso idioma, mantendo ou não a sua grafia original. Já o anglicismo é o estrangeirismo proveniente da língua inglesa, que pode ser usado por não haver um termo equivalente em português, mas também por desconhecimento da nossa língua, ou ainda por modismo ou vaidade.

Não falamos, portanto, “brasileiro”, mas português, porque utilizamos a mesma gramática e o mesmo dicionário que os portugueses, assegurando a unidade da língua.

No entanto, pode-se chamar “Português do Brasil”, assim como se tratam com as línguas hispânicas, onde mesmo algumas variações de vocabulário entre os distantes povos latino-americanos não foram suficientes para originar um novo idioma.

A questão fundamental é que as diferenças linguísticas não devem ser obstáculos ou justificativas para que não haja integração entre brasileiros, portugueses, angolanos e outros povos e comunidades que falam português, nos mais ricos e diferentes matizes. A multiplicidade cultural dos lusófonos só acrescenta riqueza ao idioma, e deve ser cada vez mais difundida e compartilhada pelos países.  

A migração, cada vez mais intensa, de brasileiros para Portugal deve, por isso, ser considerada um fenômeno benéfico para ambos os países, e uma ótima oportunidade para que se intensifiquem ações de envolvimento e intercâmbio cultural.

Ressalto que o conhecimento que os brasileiros têm das tradições culturais portuguesas ainda é muito limitado em relação ao nível de conhecimento que os portugueses têm do Brasil. A integração de todos os países que falam suas versões do Português, com sotaques diferenciados, será sinônimo do desenvolvimento e fortalecimento do idioma no cenário econômico mundial.

Beleza, ô pá? Bué!

Laércio de Matos Ferreira

Laércio de Matos Ferreira é investigador, em nível de pós-doutoramento, na área de Inovação Territorial junto à Universidade de Aveiro. Possui doutorado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestrado em Gestão pela Universidade Estadual do Ceará. Atualmente é Chief Operating Officer da empresa Consultores-Associados, que apoia empresas lusófonas para internacionalização e comércio exterior junto aos países da União Europeia, via Portugal. É mentor associado à BrasileiroSou, além da Rede MentAll, da Universidade de Aveiro.

Veja quem é Laércio de Matos Ferreira
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